Feridas emocionais: quais marcas invisíveis você ainda carrega?
- Renata Reston
- 2 de out.
- 4 min de leitura

Quantas vezes você se sentiu rejeitada, abandonada ou injustiçada e não conseguiu entender por que aquela dor parecia tão maior do que a situação em si? Muitas dessas dores têm raízes nas feridas emocionais da infância, que moldam nossos relacionamentos, nossas escolhas e até o modo como nos enxergamos no trabalho e na vida adulta. Refletir sobre essas feridas é um convite ao autoconhecimento e à cura. Você já se perguntou quais marcas invisíveis ainda carrega consigo?
O que são feridas emocionais?
As feridas emocionais são marcas profundas criadas a partir de experiências dolorosas, geralmente vividas na infância, quando somos mais vulneráveis e dependentes do cuidado dos outros. Podem surgir de situações de rejeição, ausência emocional, críticas severas, falta de reconhecimento ou até promessas quebradas.Essas experiências, muitas vezes, não foram compreendidas ou acolhidas quando aconteceram, e acabaram sendo guardadas no inconsciente como crenças sobre quem somos e sobre como o mundo funciona.No fundo, as feridas emocionais representam necessidades emocionais não atendidas. Quando criança, você precisava de acolhimento, mas recebeu frieza; precisava de proteção, mas experimentou abandono; precisava de reconhecimento, mas foi criticada. Essas situações geram cicatrizes internas que moldam a forma como você se percebe e se relaciona com os outros.Você já percebeu como certas situações hoje despertam reações intensas, desproporcionais ao momento? Isso acontece porque tocam justamente nessas feridas que permanecem abertas.
As cinco feridas emocionais clássicas segundo Lise Bourbeau
· Rejeição
Origem: sensação de não ser aceita como é.Reflexão: Você costuma duvidar do seu valor e se afastar antes mesmo de alguém poder rejeitá-la?
· Abandono
Origem: experiências de ausência emocional ou física de figuras importantes.Reflexão: Você teme ficar sozinha e muitas vezes aceita menos do que merece para não perder alguém?
· Humilhação
Origem: situações em que a criança foi ridicularizada ou exposta.Reflexão: Você sente vergonha de si mesma ou se culpa em excesso para agradar os outros?
· Traição
Origem: quando promessas não foram cumpridas ou houve quebra de confiança.Reflexão: Você sente necessidade de controlar tudo por medo de ser enganada novamente?
· Injustiça
Origem: vivências de rigidez, críticas excessivas ou falta de reconhecimento.Reflexão: Você se sente constantemente avaliada, exigindo perfeição de si mesma e dos outros?
Como essas feridas afetam a vida adulta
As feridas emocionais não ficam presas ao passado — elas se infiltram no presente, influenciando nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos.
· Nas relações pessoais: uma mulher que carrega a ferida da rejeição pode se isolar por medo de não ser amada; quem traz a ferida do abandono pode se tornar dependente e aceitar menos do que merece apenas para não ficar sozinha.
· Nos conflitos familiares: as feridas não curadas fazem com que padrões se repitam. Talvez você já tenha percebido que reage aos seus filhos ou parceiros de maneira semelhante ao que viveu na infância, mesmo prometendo a si mesma que faria diferente.
· No trabalho: as feridas também aparecem no ambiente profissional. Quem carrega a ferida da injustiça pode sentir necessidade constante de provar seu valor, nunca se sentindo boa o suficiente. Já quem traz a ferida da traição pode ter dificuldade em confiar e delegar, vivendo em constante estado de controle.Essas dores moldam não apenas como você vê os outros, mas também como você se enxerga. Quantas oportunidades você já deixou de viver porque uma ferida falou mais alto que a sua coragem?
Caminhos para lidar com as feridas
Curar não é esquecer o que aconteceu, mas aprender a dar novos significados às experiências vividas. Eis alguns caminhos:
· Reconhecimento: o primeiro passo é perceber que as feridas existem. Observar suas reações, emoções intensas e padrões repetitivos ajuda a identificar de onde vêm essas dores.
· Autocompaixão: trate-se com a mesma bondade que ofereceria a uma amiga querida. Substitua a autocrítica por acolhimento, entendendo que você reagiu como pôde em momentos de dor.
· Autoconhecimento: registre suas emoções, faça reflexões ou escreva sobre os momentos em que se sente mais vulnerável. Quanto mais você se conhece, mais ferramentas tem para lidar com os gatilhos.
· Apoio terapêutico: buscar ajuda profissional pode ser fundamental para ressignificar experiências do passado, liberar emoções reprimidas e construir novas formas de se relacionar.
· Relações saudáveis: permita-se estar perto de pessoas que tragam segurança e respeito. Relações saudáveis funcionam como um espaço de cura, onde é possível experimentar novas formas de amar e ser amada.
· Práticas de autocuidado: meditação, escrita terapêutica, atividades criativas e hábitos que nutrem o corpo e a mente ajudam a fortalecer a autoestima e criar mais equilíbrio.
Exercícios de auto-reflexão para curar suas feridas
1. Escrita terapêutica: escolha uma situação recente em que você reagiu de forma intensa e pergunte-se: “O que realmente me doeu aqui? A dor é do presente ou do passado?”
2. Diálogo interno: diante de uma emoção forte, imagine-se acolhendo a sua versão criança e dizendo: “Eu estou aqui, você não está mais sozinha.”
3. Mapa das feridas: identifique quais feridas emocionais mais se repetem em sua vida e reflita: “Como elas aparecem nas minhas relações de hoje?”
4. Pequenas mudanças: escolha um hábito de autocuidado por semana (como dizer não a algo que não deseja, praticar meditação ou se permitir descansar sem culpa) e perceba como isso fortalece sua segurança interna.
E se a chave para transformar suas relações estivesse em olhar para dentro e curar suas próprias feridas? Quais delas você reconhece em si mesma e qual será o primeiro passo para ressignificá-las?
Permita-se esse movimento de cura. Ele pode abrir portas não apenas para relacionamentos mais saudáveis, mas também para uma vida mais plena, confiante e equilibrada.
Renata Restonn
Psicóloga e Mentora de Vida e Careira
CRP/RS: 07/14513


































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