Resistência Ganhos x Perdas
A maioria de nós tem duas vidas: a que vivemos e a que gostaríamos de viver. Entre uma e outra, bloqueando nossa passagem, está a Resistência.
O que é a Resistência?
Você já adiou o início de um projeto importante, mesmo sabendo que ele faria de você uma pessoa mais feliz e próspera?
Você já evitou conversas difíceis?
Já cancelou um compromisso importante para a sua vida profissional por medo, insegurança ou ansiedade?
Você é um escritor que não escreve, um pintor que não pinta ou um empreendedor que não empreende?
Eu poderia trazer outros exemplos, pois as situações nas quais a Resistência se manifesta são em número potencialmente infinito, mas creio que você já entendeu a que estou me referindo.
Mas não se engane: a Resistência não é simplesmente outro nome para a procrastinação.
A procrastinação é apenas uma das formas que usamos para ceder à Resistência.
Procrastinar é dizer sim à Resistência mediante uma racionalização simples: “hoje não, farei amanhã”.
A Resistência é muito mais do que procrastinação.
Trata-se de uma força produtora de infelicidade. Ela corrompe e destrói aquilo que há de melhor em nós, fazendo-nos viver uma existência diminuída.
A Resistência é a grande inimiga da realização e da felicidade humanas.
Começar o ano estudando-a é uma excelente escolha.
Espero que eu possa ajudar você a compreender melhor essa inimiga comum da humanidade.
A Resistência Quer o Nosso Mal
A Resistência é a tendência humana de rejeitar as ações que produzem verdadeiro crescimento e, em seu lugar, escolher ações que produzem gratificação imediata.
Todas as vezes que queremos fazer a opção por aquilo que é elevado e rejeitar o que é baixo, a Resistência surge e começa a nos atacar.
A opção pelo bem invoca a Resistência.
Nós a experimentamos como uma força que busca nos afastar do trabalho a ser realizado. Seu objetivo é nos dissuadir, distrair ou impedir de fazer o que nos fará bem.
Os meios que utilizará para alcançar esse objetivo são tão variados que seria impossível criar uma lista completa.
Sua astúcia e inventividade a permitem formular sempre novas estratégias para nos manter inativos ou nos levar a agir na direção contrária àquela que queríamos.
Foi a Resistência que levou São Paulo (5–67) a escrever “pois não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero fazer é que eu faço”.
A Resistência quer o nosso mal.
A Resistência é Interior, Invisível e Universal
A Resistência quer nos enganar.
Ela quer nos fazer acreditar que a causa da nossa inércia ou dos nossos maus resultados está em nosso chefe, trabalho, marido, esposa, pai, mãe, filhos, ambiente, etc.
Esses elementos, claro, podem constituir obstáculos às nossas aspirações, mas atribuir a eles toda a culpa por nossas misérias e fracassos seria falso.
Nenhuma situação ou pessoa pode determinar completamente nossas decisões e o curso das nossas ações.
Não nos enganemos. A Resistência é, sobretudo, uma realidade interior. Ela é gerada e mantida em movimento por nós.
Ela não pode ser vista, tocada ou ouvida, mas todos nós a sentimos e experimentamos sua ação.
Estamos enganados se pensamos que somos os únicos assediados pela Resistência. Nossos amigos e familiares também sofrem sua ação corruptora, embora seja provável que nem todos saibam do que se trata.
A verdade é que muitos já desistiram de lutar contra ela. Entregaram os pontos.
A Resistência é Perigosa e Implacável
É impossível prever todas as estratégias que a Resistência irá usar para nos arruinar.
Ela usará da mentira, da falsificação, da tentação carnal, do bullying e até da lisonja — e poderá combinar tudo isso criativamente para bloquear nosso caminho.
A Resistência assumirá qualquer forma que precise para nos enganar. Algumas vezes tentará argumentar, outras proferirá insultos.
E quando pensarmos que conseguimos um acordo com ela e que estamos livres para produzir, ela esperará darmos as costas e atacará novamente.
A Resistência é traiçoeira, maliciosa e incapaz de comportar-se digna e moralmente.
Ela é perigosa e implacável.
A Resistência é Impessoal?
Steven Pressfield (1943-Presente) diz em The War of Art que a Resistência é “uma força da natureza” e que ela “opera com a mesma indiferença da chuva e transita pelos céus pelas mesmas leis que as estrelas”.
Quer com isso nos dizer que a Resistência é impessoal e que não sabe quem somos nem se importa conosco.
Não quero negar o que ele diz. Acredito que haja nela algo de natural e, portanto, de impessoal.
No entanto, sinto-me inclinado a perguntar se a Resistência não tem também uma inteligência própria. Às vezes penso que ela é poderosa e inteligente demais para ser um mecanismo autônomo e pré-programado.
As forças da natureza são sempre uniformes e atuam ciclicamente, repetindo seus processos indefinidamente, como o movimento dos astros nos céus e a passagem das estações do ano.
A Resistência, porém, demonstra incrível capacidade de mudança e adaptação. Parece haver nela uma inteligência capaz de escolher sempre o melhor curso de ação para cumprir sua missão.
Esse é um ponto complexo e exige uma investigação cuidadosa. Talvez possamos conversar sobre ele futuramente, em um novo artigo.
A Resistência Odeia a Grandeza
A Resistência age apenas quando desejamos subir e crescer.
Ela age apenas quando desejamos responder a um chamado nas artes, iniciar um empreendimento ou crescer moral e espiritualmente.
Ela quer nos ver ir para baixo ou, na melhor das hipóteses, ficar onde estamos.
Se, por outro lado, decidimos desistir de um grande sonho para fazer algo que está abaixo do nosso potencial e desconectado da nossa verdadeira aspiração, a Resistência nos deixará em paz.
A Resistência odeia a grandeza, a beleza e a bondade.
Ela quer matar nossa alma e nosso gênio. Quer anular aquilo que, em nós, pode dar frutos saborosos.
A luta contra a Resistência é uma luta contra a morte do nosso espírito criador.
A Bondade da Resistência
Existe algo extraordinariamente bom na Resistência: ela nos mostra o caminho.
Assim como a agulha imantada de uma bússola aponta sempre para o norte geográfico, a Resistência aponta sempre para o nosso norte existencial.
Aquilo que a Resistência quer nos impedir de alcançar é aquilo que é, para nós, a coisa mais importante.
Precisamos tirar proveito desta característica da Resistência e deixá-la guiar-nos na direção do chamado que devemos seguir.
Quanto mais importante algo for para o nosso progresso e realização, mais sentiremos a ação da Resistência querendo bloquear nossa busca por esse bem.
Nesse sentido, a Resistência nos faz um favor, pois resolve para nós o problema da nossa vocação e do nosso propósito: ela os revela claramente.
A Resistência, portanto, mostra-nos o caminho.
Voltarei ao tema da Resistência no futuro, pois ainda há muito a dizer sobre o assunto.
Desejo o melhor para sua vida.
Renata Restonn
Psicóloga e Mentora de Vida e Careira
CRP/RS: 07/14513
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